Segurança, guerras e atritos com Biden: por que Israel comemora vitória de Trump?
Republicano venceu foi eleito novo presidente dos EUA nesta quarta (6). Em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2020, Trump adotou políticas pró-Israel.
Setembro/2020 - O primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu, o presidente dos EUA Donald Trump, o ministro das relações exteriores do Bahrein Abdullatif al-Zayani e ministro das relações exteriores dos Emirados Árabes Unidos Abdullah bin Zayed Al-Nahyan acenam da varanda Truman, na Casa Branca, após a participação na assinatura dos Acordos de Abraham, onde os países do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos reconhecem Israel, em Washington, em 15 de setembro de 2020
Saul Loeb/AFP/Arquivo
A volta de Donald Trump à Casa Branca beneficia Israel, avaliaram vários analistas entrevistados pela agência de notícias AFP após a vitória do candidato republicano nos Estados Unidos.
A eleição de Trump foi comemorada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seus apoiadores, elogiando-o como um aliado que apoiaria Israel "incondicionalmente", de acordo com um líder do movimento dos colonos israelenses.
O resultado da eleição é um alívio para a coalizão de Netanyahu, que entrou em atrito com o governo democrata de Biden devido aos conflitos na Faixa de Gaza e no Líbano, que alimentaram protestos em todo o mundo e deixaram Israel cada vez mais isolado internacionalmente. Netanyahu chamou a volta de Trump à Casa Branca de o "maior retorno da história".
No entanto, muitos dos especialistas ouvidos pela AFP destacam a imprevisibilidade do futuro presidente americano, cuja política diplomática ficou marcada pelo isolacionismo e a confrontação durante seu primeiro mandato (2017-2021).
Por que a vitória de Trump gera entusiasmo?
Após sua eleição em 2016, o presidente Trump multiplicou os gestos a favor de Israel.
Em dezembro de 2017, reconheceu Jerusalém como capital de Israel, rompendo a neutralidade histórica da comunidade internacional.
Também transferiu a embaixada americana para a cidade sagrada, cuja parte leste está ocupada e anexada por Israel desde 1967.
Trump também reconheceu a soberania israelense sobre as Colinas de Golã, ocupadas por Israel desde 1967, mas reconhecido como território sírio pela comunidade internacional.
A administração Trump afirmou que não considera as colônias israelenses da Cisjordânia ocupada como ilegais, o que contradiz o direito internacional.
Durante seu primeiro mandato, os diplomatas americanos impulsionaram os Acordos de Abraão, que permitiram normalizar as relações de Israel com vários países árabes, o que muitos israelenses veem como uma maneira de garantir a segurança de seu país.
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O que os israelenses esperam de Trump?
Embora Israel esteja há mais de um ano em guerra e tenha sofrido reveses diplomáticos, "a vitória de Trump reforça Netanyahu", afirmou Mairav Zonszein, especialista de Israel do International Crisis Group (ICG). Os dois líderes compartilham maneiras "similares" de fazer política, acrescentou Zonszein.
Zonszein também disse que "a extrema direita e a direita dos colonos" celebraram o resultado, antecipando o retorno de uma política americana favorável aos assentamentos na Cisjordânia ocupada.
A nível internacional, vários analistas consideram que Trump favorecerá os interesses de Israel.
Para Yonatan Freeman, especialista em Relações Internacionais da Universidade Hebraica, "levando em consideração o que (Trump) disse e fez, espera-se que seja mais duro com o Irã", inimigo comum de Israel e EUA e aliado do Hamas na Faixa de Gaza e do Hezbollah no Líbano.
Freeman prevê a abertura de negociações impulsionadas pelos Estados Unidos para "um melhor acordo para a segurança de Israel".
Quais são os desafios para o relacionamento EUA-Israel?
Para Yossi Mekelberg, especialista em geopolítica israelense, "às vezes é melhor lidar com pessoas previsíveis, mesmo que você não goste delas, do que com pessoas imprevisíveis".
Mekelberg mencionou os confrontos ocasionais entre Trump e Netanyahu, especialmente em 2020, quando Trump contestou a vitória eleitoral de Biden e considerou uma traição quando Netanyahu parabenizou o democrata.
Desde então, Trump tem feito declarações contraditórias, entre reiterar seu apoio a Israel e seu desejo de pôr fim à guerra em Gaza.
Os dois homens se encontraram em julho durante uma visita do primeiro-ministro aos EUA e pareciam ter se reconciliado.
"Não se pode realmente analisar alguém que não tem uma linha de pensamento coerente", concluiu Mekelberg.
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